Entrevista com Jonicael Cedraz

Jonicael Cedraz de Oliveira é Professor Assistente IV da Universidade Federal da Bahia na Faculdade de Comunicação. Atua nos seguintes temas: Comunidades, Rádio Comunitária, Estratégias.

Jonicael também é coordenador executivo do Fórum Nacional pela Democratização da comunicação – comitê Bahia e representante desta mesma instituição no conselho deliberativo do FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da comunicação).

George Velame - Quando o Sr. Ingressou na UFBA?

Jonicael Cedraz - Eu entrei em 1980. E era ainda lá no Canela, em Biblioteconomia. Participei com os alunos da ocupação do prédio, que era a biblioteca da Ufba. Antes havia sido um instituto de letras francesas. Ai, ficou lá o curso de Jornalismo. E desde este tempo venho lutando por uma faculdade mais prática.

George Velame - O senhor falou em lutar por uma faculdade mais prática. Existe algum problema na Facom que persistiu nestes últimos 20 anos?

Jonicael Cedraz - Existe. Desde lá, desde que se criou uma faculdade de comunicação, há uma competição interna. Foi criado um departamento de comunicação ao lado do de Jornalismo. Tínhamos um curso (jornalismo) com dois departamentos. Se estabeleceu uma disputa de poder entre os dois departamentos. De um lado os jornalistas (departamento de jornalismo) do outro os teóricos (departamento de comunicação) com suas teorias prontas. E assim se tem um problema, pois estes não conseguem suprir a demanda das teorias do jornalismo e nem mostrar como isto ocorre na prática. O aluno passava pela parte chata do curso, a teoria, e queria logo entrar na fase mais próxima da habilitação., a escola de comunicação tem problemas até hoje, neste sentido: teorias por teorias. Não são métodos de ação que lhe orientem para uma leitura crítica dos meios de comunicação. O fato de ter mudado de prédio não alterou nada. A pós-graduação ganhou alguns prêmios ai, que na minha opinião não foram muito merecidos, mas isto deu um certo prestígio a escola.

George Velame - E como o senhor vê o ensino na Facom nestes últimos 20 anos?

Jonicael Cedraz - Não vejo com bons olhos. A maioria dos professores não tem uma formação pedagógica, estão só se preocupando com os seus papagaismos. Eu fiz um trabalho para um Fórum Nacional de Educação, problemática da formação docente na universidade brasileira, na qual eu digo que a maioria dos professores das universidades brasileiras são analfabetos em pedagogia, ciência e política, e isto eu tirei da minha observação aqui na Facom e nas universidades em que eu dou palestras. Eu tenho esta formação, no entanto nunca dirigi o colegiado. Se você observar, verá que a reforma do currículo foi feita a facão. Se privilegiou muito a teoria e se esqueceu da prática. Os alunos chegam aqui na aula sobre rádio e não sabem nada sobre teoria do jornalismo, sobre valores notícia, e por ai vai. A teoria tem que caminhar com a prática. A pessoa tem que ter no mínimo 3 anos de atividade prática.

George Velame – O senhor falou a pouco de uma reforma, que reforma foi esta?

Jonicael Cedraz - A reforma sob o comando de alguém que tinha o poder autoritário, tipo ACM, e os outros se deixaram levar. É uma escola de comunicação onde não há diálogo, comunicação. (risos). E este conflito levou ao fim o departamento de jornalismo. O currículo foi totalmente modificado dando uma maior preferência às matérias teóricas, deixando de lado questões ligadas a única habilitação que se tinha no momento na escola, que era o curso de jornalismo.

George Velame - O que mudou, nestes anos, no que diz respeito a radiojornalismo?

Jonicael Cedraz - Praticamente nada. Como eu já tinha dito, o departamento ficou com os teóricos e os melhores equipamentos vão para eles, quando o enfoque deveria ser o ensino. Os laboratórios nunca foram privilegiados. Eu, por exemplo, estou com problema aqui no laboratório, mandei um documento para o diretor da escola, que me disse que leu, mas quando chegou aqui eu vi que ele não leu. São estas coisas, este descaso com as matérias ligadas a habilitação em jornalismo que fazem com que o curso fique deficiente. Só tenho um computador aqui que serve para o laboratório, o outro já está ultrapassado, porém é só trocar, traz um do laboratório de informática e leva o daqui. É simplesmente trocar. Mas é algo que transpõe a universidade, pois está ligada a cultura de reproduzir a hierarquia, os sistemas de privilégios que funda nossa sociedade. Em um semestre não dá para se trabalhar radiojornalismo, tem vários conhecimentos que os alunos não possuem, pois o currículo escolar não lhes propicia. No entanto, eles não se importam com isto.

George Velame - Como vê o seu percurso na Facom?

Jonicael Cedraz - É um percurso de luta. Uma luta contra os papagaios que estão aí no poder desde que entrei. A luta pela formação de profissionais conscientes de seu papel transformador. A luta pela teoria voltada para a prática. A teoria aqui é dada de forma dispersa, como um mosaico de conteúdo.

George Velame - E o perfil dos alunos mudou muito neste 20 anos?

Jonicael Cedraz - Não muito. Cada geração tem a sua cultura, mas não mudou muito. Tem alunos que se dedicam mais que outros. Sempre foi assim e sempre será.

George Velame - Qual a sua perspectiva quanto ao futuro da Facom?

Jonicael Cedraz - Espero que ela se torne mais democrática, e que acabe este divórcio entre teoria e prática que assola esta faculdade desde que ela se tornou independente. E se recupere o currículo de jornalismo que foi destruído a facão pela vontade de uma só pessoa.